Banco Central diz que tarifaço de Trump tem ‘impactos setoriais relevantes’ e que deve preservar uma ‘postura de cautela’

Banco Central diz que tarifaço de Trump tem ‘impactos setoriais relevantes’ e que deve preservar uma ‘postura de cautela’

O tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil tem “impactos setoriais relevantes e impactos agregados ainda incertos, a depender de como se encaminharão os próximos passos da negociação e a percepção de risco inerente ao processo”. “O Comitê acompanha com atenção os possíveis impactos sobre a economia real e sobre os ativos financeiros. A avaliação predominante no Comitê é de que há maior incerteza no cenário externo e, consequentemente, o Copom deve preservar uma postura de cautela”, informou o BC. O Banco Central acrescentou que, como de costume, focará nos “mecanismos de transmissão” da conjuntura externa sobre a dinâmica de inflação interna e seu impacto sobre o cenário prospectivo. O receio de analistas, até então não confirmado, é de que as tensões comerciais possam impulsionar o dólar — gerando pressões inflacionárias. Presidente Lula reconhece necessidade de cautela na negociação do tarifaço com Donald Trump Inflação pressionada e desaceleração da economia Na ata do Copom, o Banco Central também informou que o cenário “prospectivo” (projetado para o futuro) de inflação “segue desafiador em diversas dimensões”. “As expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, mantiveram-se acima da meta de inflação em todos os horizontes, mantendo o cenário de inflação adverso”, acrescentou a instituição. Ao mesmo tempo, o BC avaliou que a atividade econômica doméstica “tem indicado certa moderação no crescimento e, ao mesmo tempo, apresentado dados mistos entre os setores e indicadores”. “De modo geral, observa-se uma certa moderação de crescimento, corroborando o cenário delineado pelo Comitê. Tal moderação, necessária para a abertura de hiato e a convergência da inflação à meta, coaduna-se com uma política monetária contracionista [juros altos]. As pesquisas setoriais mensais e os dados mais tempestivos de consumo corroboram uma redução gradual de crescimento”, afirmou o BC. ▶️O BC tem dito claramente que uma desaceleração, ou seja, um ritmo menor de crescimento da economia, faz parte da estratégia de conter a inflação no país. ▶️Apesar da desaceleração da economia, o BC informou, na ata do Copom, que o chamado “hiato do produto” segue positivo. ▶️Isso quer dizer que a economia continua operando acima do seu potencial de crescimento sem pressionar a inflação. Juro alto por período prolongado O Copom também informou, na ata de sua última reunião, que seguirá acompanhando o ritmo da atividade econômica, fundamental na determinação da inflação. Mas que o atual cenário “prescreve uma política monetária em patamar significativamente contracionista [ou seja, juros altos] por período bastante prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta”. ▶️Para definir os juros, a instituição atua com base no sistema de metas. Se as projeções estão em linha com as metas, é possível baixar os juros. Se estão acima, o Copom tende a manter ou subir a Selic. Desde o início de 2025, com o início do sistema de meta contínua, o objetivo de 3% será considerado cumprido se a inflação oscilar entre 1,5% e 4,5%.Com a inflação ficando seis meses seguidos acima da meta em junho, o BC teve de divulgar uma carta pública explicando os motivos.Ao definir a taxa de juros, o BC olha para o futuro, ou seja, para as projeções de inflação, e não para a variação corrente dos preços, ou seja, dos últimos meses.Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.Neste momento, por exemplo, a instituição já está mirando na meta considerando o segundo semestre de 2026.Para 2025, 2026, 2027 e 2028, a projeção do mercado para a inflação oficial é de 5,07% (com estouro da meta), 4,43%, 4% e em 3,8%. Ou seja, acima da meta central de 3%, buscada pelo BC.Na ata de sua última reunião, o BC informou que “seguirá vigilante” e que os passos futuros da política de juros “poderão ser ajustados e que “não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste [novas altas] caso julgue apropriado”. Veja outros recados do Copom O mercado de crédito tem apresentado “moderação mais nítida”, diz o BC. “Observa-se um recuo nas concessões de crédito livre [como empréstimos pessoais e financiamentos] e elevação nas taxas de juros e de inadimplência. Além disso, no crédito às pessoas físicas, há um aumento do comprometimento da renda familiar com o serviço das dívidas e um aprofundamento do fluxo de crédito negativo, ou seja, maior pagamento do que contratação de dívida por parte das pessoas físicas”.O mercado de trabalho, entretanto, “segue dinâmico”. “Tanto do ponto de vista de renda, com ganhos reais consistentemente acima da produtividade, como do emprego, com redução expressiva da taxa de desemprego para níveis historicamente baixos, o mercado de trabalho tem dado bastante suporte ao consumo e à renda”.O BC reiterou que a política fiscal, ou seja, os gastos do governo, tem um impacto de curto prazo [na inflação], majoritariamente por meio de estímulo à demanda agregada, e uma dimensão mais estrutural, que tem potencial de afetar a percepção sobre a sustentabilidade da dívida e impactar o prêmio [compensação] a termo da curva de juros. “Uma política fiscal que atue de forma contracíclica [com queda de gastos, que contenha a demanda] e contribua para a redução do prêmio de risco favorece a convergência da inflação à meta. O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”, acrescentou o Banco Central.

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