Conforme o relatório, os déficits em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) serão de: 7,8% em 2024; e de 8,6% em 2025. ➡️ Déficit nominal é a diferença entre as receitas totais (incluindo aplicações financeiras) e as despesas totais (incluindo juros da dívida). Quando as receitas superam as despesas, o resultado é de superávit nominal. Com o resultado, o déficit nominal do Brasil só é pior do que o da Bolívia. A comparação considera as principais economias globais, incluindo as desenvolvidas e as emergentes. Veja no gráfico abaixo: Déficit nominal de países emergentes e economias desenvolvidas. — Foto: Reprodução/BTG Pactual Os dados mostram que resultado brasileiro deverá ser pior, inclusive, do que o déficit médio calculado para os países emergentes e desenvolvidos, incluindo China e Estados Unidos. A previsão é que as duas maiores economias do mundo registrem resultados próximos ao do Brasil. Fabio Serrano, economista do BTG Pactual, destaca que houve um endividamento maior dos países após a pandemia, o que torna este um movimento geral. Ele diz, por outro lado, que números brasileiros são “mais desafiadores”. “A situação não é exclusiva do Brasil. Mas, entre os emergentes, temos um dos níveis de endividamento mais altos e um dos déficits nominais mais altos. Isso torna a nossa situação mais desafiadora”, afirma. O estudo do BTG estima que o déficit nominal médio do atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá ficar em 8,2% do PIB. A média considera o período de 2023 a 2026. O resultado representa um novo crescimento do indicador, após recuo para 7% do PIB no governo de Jair Bolsonaro (PL), de 2019 a 2022. Veja abaixo: Déficit nominal do Brasil, por governo. — Foto: Reprodução/BTG Pactual Dívida pública O BTG Pactual projeta que o Brasil irá cumprir com as regras fiscais em 2024 (leia mais abaixo). A previsão, no entanto, é que a dívida bruta do país seguirá em tendência de alta. “A perspectiva para a dívida pública é de crescimento contínuo para os próximos anos, devendo atingir 86% do PIB ao final 2026, um crescimento de 14p.p. ao longo da atual gestão”, diz o documento. Dívida Bruta do Governo Geral e Dívida Líquida do Setor Público. — Foto: Reprodução/BTG Pactual O crescimento da dívida pública representa um entrave para investimentos no Brasil. Com maior risco de descontrole fiscal, os investidores passam a exigir juros maiores (ou seja, rentabilidade maior) para aplicarem recursos no país. É o chamado prêmio de risco. O movimento obriga o governo a pagar juros elevados para se financiar – aumentando, assim, sua dívida bruta. Fabio Serrano, do BTG Pactual, explica que o custo da dívida é alto, principalmente, por dois motivos. “Primeiro, por uma percepção de risco do investidor, que entende que a dívida brasileira tem uma dinâmica desafiadora. E, segundo, porque a política fiscal expansionista pressiona a demanda, o que pressiona a inflação e exige juros mais altos”, diz. “Quando a Selic, a taxa básica de juros, sobe, o custo da dívida também aumenta. Então, há uma relação dessas variáveis, o que ajuda a explicar o déficit.” Há ainda outros efeitos diretos, como a desvalorização do real em relação ao dólar, que superou a casa dos R$ 6 no fim do ano passado e tem previsão de ficar em níveis elevados por mais tempo. Em termos simples, os receios do mercado financeiro em relação às contas públicas se refletem no dólar da seguinte forma: Sem cortar gastos, o país tem uma perspectiva menor de controle da dívida pública;Um país mais endividado tem uma probabilidade maior de não cumprir com seus compromissos financeiros, e se torna mais arriscado;Um país mais arriscado só se torna atrativo se pagar juros mais altos pelos títulos;Com países mais seguros pagando juros mais altos no exterior, o Brasil fica menos atrativo;Se o Brasil está pouco atrativo, os investidores tiram dólares do país, enfraquecendo o real. Ana Flor: Governo quer mostrar que pode estabilizar dívida Resultado primário O superávit primário ocorre quando as receitas com tributos e impostos ficam acima das despesas do governo. Não entra nessa conta o pagamento de juros da dívida. Em seu relatório, o BTG afirma que as receitas extraordinárias e o crescimento econômico do país — que deve fechar acima de 3,5% em 2024 — devem garantir a meta do resultado primário no ano, que é de déficit zero. “A meta em 2024 deverá ser cumprida, assim como o limite de despesas imposto pelo arcabouço fiscal”, diz o documento, que prevê déficit do governo central de R$ 47 bilhões. “Com R$ 21 bilhões em despesas excluídas da meta, esperamos que a sua banda inferior seja cumprida, assim como o limite de gastos estabelecido pelo arcabouço fiscal.” Cenário para 2025 O cenário para este ano ainda é de incertezas. Para o BTG Pactual, o cumprimento da meta e do limite de crescimento das despesas ainda irá depender de “receitas incertas e de medidas de pente-fino”. “Nossa projeção para o resultado primário do governo central de 2025 se encontra em -R$100 bilhões, equivalente a -R$ 56 bilhões quando excluídas as despesas com precatórios”, aponta o relatório. Enquanto isso, a projeção do governo considera R$ 178 bilhões em “receitas incertas”, ressalta o documento. “Dada a resistência do Congresso para aprovar novos aumentos de impostos e a incerteza sobre a adesão do setor privado a certas medidas, incorporamos apenas R$ 60 bilhões em nossa projeção.” Apesar de afirmar que há espaço para a redução de despesas por meio de medidas de pente-fino nos programas sociais, o banco acredita que há dificuldades para sua execução. “O governo já iniciou uma operação de revisão de benefícios irregulares para economizar R$ 26 bilhões em 2025. Contudo, medidas dessa natureza são mais incertas, já que sua implementação depende de um critério objetivo de avalição, apoio político para sua execução, e apoio jurídico para a sua validação”, conclui o documento.