Como as encomendas podem demorar a ser preparadas e transportadas, alguns importadores nos EUA já cancelam, por temerem que cheguem em agosto e sejam taxadas. Em outros casos, os próprios empresários brasileiros estão segurando a produção para evitar o prejuízo. A incerteza não se restringe aos setores já afetados e já atinge outras regiões e produtos do país, que enxergam na medida uma ameaça à estabilidade econômica local. Da indústria de aviões à lavoura de laranja, a preocupação é grande. Carne em Mato Grosso do Sul (MS) Ainda segundo o sindicato, pelo menos quatro frigoríficos no estado interromperam a produção voltada ao mercado americano: JBSNaturafrigMinerva FoodsAgroindustrial Iguatemi Depois da China, os Estados Unidos são o maior comprador da carne nacional. O país importa 12% de todo o volume de carne que o Brasil vende para o exterior, enquanto os chineses levam praticamente metade (48%), segundo o Ministério da Agricultura. O preço da carne brasileira era o mais barato do mercado externo até então. A suspensão das exportações visa evitar formação de estoques e prejuízos imediatos, já que as vendas se tornariam inviáveis economicamente com a tarifa extra de 50%. Isso não significa que os frigoríficos brasileiros vão colocar mais carne no mercado nacional, é o que afirma Fernando Henrique Iglesias, analista do Safras & Mercados. “Os frigoríficos vão tentar redirecionar esse produto para o mercado internacional para não gerar um efeito tão negativo. […] A nossa sorte é que tem mais 100 países comprando carne do Brasil”, diz. Mel no Piauí (PI) O Brasil é um dos maiores produtores de mel do mundo. E o Piauí é um dos líderes da produção nacional. Os Estados Unidos consomem 80% do mel produzido no Brasil. Com o cancelamento, o produto precisa ser armazenado em câmaras refrigeradas, o que gera custos adicionais para as empresas. Madeira no Paraná (PR) Os Estados Unidos recebem 42,4% das exportações de madeira do Brasil, sendo um dos principais mercados internacionais do setor paranaense. De acordo com estimativas da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre), o Paraná é um dos principais exportadores de produtos de madeira para os Estados Unidos. O setor madeireiro gera cerca de 400 mil empregos diretos e indiretos no estado, considerando os trabalhadores florestais e os que atuam em indústrias do segmento, aponta a associação. Pescados do Nordeste (Bahia, Ceará e Pernambuco) A decisão fez com que pelo menos 58 contêineres de peixes, lagostas e camarões fossem desembarcados de três dos principais portos do Nordeste, os de Salvador (BA), Pecém (CE) e Suape (PE). O Brasil exporta peixes para os Estados Unidos há mais de cem anos. Segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), Eduardo Lobo, 70% das exportações feitas pelo setor têm como destino os EUA, o que torna os produtores vulneráveis. Pedras (Rochas Naturais) no Espírito Santo (ES) Compradores dos Estados Unidos suspenderam imediatamente o embarque de rochas naturais do Espírito Santo nesta quarta-feira (16), dias após o anúncio do tarifaço de Trump. O estado é potência no setor de mármore e granito. Segundo empresas que exportam rochas naturais, os pedidos não foram cancelados, ainda que os norte-americanos tenham pedido a suspensão imediata dos embarques. O Espírito Santo é líder nacional em exportação de rochas naturais, como granito e mármore, e 82% da receita do setor vêm do estado. Até junho deste ano, os Estados Unidos compraram, em média, 66% das rochas naturais do Espírito Santo. O governo federal decidiu criar um comitê para ouvir os setores mais atingidos pela tarifa. Na segunda-feira (14), o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), se reuniu com o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, pasta que trata da política de exportações do país. frigorífico, os galoes de mel, pedras e madeira — Foto: Montagem/g1 Incerteza geral, mesmo em setores sem vendas canceladas O CEO da companhia, Francisco Gomes Net, alerta para cortes de investimento e até demissões em massa. A esperança, segundo empresários do setor, é que a própria indústria americana pressione por um recuo da medida, dado o impacto também para consumidores nos EUA. Em Sorocaba, 8,5% de tudo o que se exporta vai para os EUA, e a cidade teme ruptura de contratos e aumento do desemprego. Itapetininga, com forte presença do agronegócio, teme tanto a perda de mercado quanto o aumento dos custos de produção devido à alta do dólar.