“Em julho, nossos embarques [para os Estados Unidos] já caíram pela metade. Em agosto, a expectativa é de queda de 80%”, afirma o presidente da Abemel, Renato Azevedo. Em 2024, 79% de todo o mel exportado pelo Brasil foi para o país norte-americano, de acordo com dados da Abemel. Uma das estratégias utilizadas pelo setor para que ele seja inserido na lista de produtos isentos de tarifas está sendo pressionar o governo de Trump por meio de clientes americanos. EUA foi o principal comprador do mel brasileiro em 2023, conforme Abemel. — Foto: Arte/g1 As empresas que importam o mel brasileiro estão escrevendo cartas para reforçar que, nos Estados Unidos, a produção do mel orgânico é irrisória. Por isso, a compra do produto brasileiro é necessária. A entrega dessas cartas a deputados americanos está sendo mediada por parlamentares brasileiros. O setor também esteve presente na reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin nesta segunda-feira (4). Os exportadores de mel reforçaram a necessidade de uma linha de crédito como medida de alívio econômico. Exportadoras atingidas Uma das exportadoras que já foi afetada pelo tarifaço é a Minamel. O diretor da empresa, Carlos Domingues, conta que há um estoque de mel parado, que terá que ser vendido por um preço menor. “Esse já vai dar prejuízo”, diz Domingues. O empresário explica que a queda no preço do produto é inevitável, e as negociações com os importadores agora são para saber quanto cada um terá que absorver da nova tarifa. “O próprio produtor não tem toda essa gordura para queimar, então eles vão baixar o preço. E baixando o preço, nós vamos ter que baixar no produtor. O problema é: e se for a um preço que não cobre nenhum custo? Aí sim seria uma tragédia”, diz o diretor da Minamel. A produção de mel orgânico no Brasil é feita majoritariamente pela agricultura familiar, ou seja, por pequenos produtores. No ano passado, os estados com a maior produção do produto foram Rio Grande do Sul, Paraná e Piauí. A maior parte da produção nacional de mel vem da agricultura familiar. — Foto: Pexels No Piauí, a produção de mel da safra 2024/25 ficou abaixo das expectativas por conta da falta de chuvas durante o inverno. Com o tarifaço de Trump, há o temor de que a situação dos apicultores se agrave. Janete Dias, gerente da Comapi, uma cooperativa que reúne cerca de mil famílias produtoras de mel no Piauí, conta que essa queda no preço irá prejudicar os pequenos produtores. “Vai diminuir muito a renda e, sem renda, não tem apicultura”, diz. A gerente da cooperativa ressalta a importância de abrir novos mercados para destinação do mel orgânico. Depois dos Estados Unidos, os principais destinos do mel brasileiro foram o Canadá, que representou 11% das exportações brasileiras no ano passado, e a Alemanha, com 6%. O mercado interno brasileiro fica com cerca de 30% do mel produzido nacionalmente, segundo o dado mais atualizado, de 2023. “No Brasil não é fácil vender mel, porque o brasileiro não tem a cultura de comer mel”, conta a gerente da Comapi. “Existe a possibilidade, por exemplo, de colocar o mel aqui no Piauí, que ainda não está na merenda escolar. Ajudaria a ter um canal de venda melhor, né? Mas isso também não soluciona o problema porque a gente tem muitos produtores. A gente está aguardando alguma medida que venha a favorecer, porque vai ficar muito complicado.”
Com tarifaço, setor do mel pode ter prejuízo de US$ 53 milhões, diz associação
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