MAELI PRADOSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o comércio global resiste e continua a avançar em 2025, mostra um indicador mensal que mede 64% do fluxo de contêineres em 90 portos pelo mundo. Pela elevada precisão, o RWI/ISL Container Index é usado pela OMC (Organização Mundial do Comércio) e pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), entre outras entidades, como termômetro do comércio e da atividade econômica global. O índice mostra que, cinco meses após as sobretaxas colocadas por Trump a quase todos os países, a movimentação de contêineres ainda aumenta de forma significativa, com quedas na atividade em portos da Costa Oeste americana e do sul da Europa mais do que compensadas pelo resto do mundo. “Em nível global, os volumes de contêineres atingem novos recordes quase todos os meses, com algumas regiões crescendo muito acima da média”, diz Sönke Maatsch, chefe da área de mercados marítimos da ISL (Instituto de Economia e Logística do Transporte Marítimo), responsável pelo índice. Após um crescimento anual de 7% no primeiro trimestre, em uma antecipação às já esperadas tarifas americanas, o RWI/ISL continuou mostrando uma alta anual de cerca de 5% entre abril e julho. Em agosto, o aumento em relação ao mesmo mês de 2024 foi menor, de 2,6%, mas o índice manteve o mesmo patamar registrado em julho, em uma resiliência relacionada ao redirecionamento de exportações para outros destinos e mudanças nos padrões de comércio. É um cenário impulsionado em grande parte pela China. No gigante asiático, o fluxo de contêineres se reduziu em relação aos EUA mas subiu para outros países, com destaque para o Sudeste Asiático. O movimento total registrou altas em maio (4,9%), junho (3,7%), julho (1,9%) e agosto (0,8%), sempre na comparação com o mesmo período de 2024. “A China começou a se preparar para as tarifas dos EUA no ano passado. Ela exporta cada vez menos para os Estados Unidos, mas passa a enviar cada vez mais produtos para países como Vietnã, Coreia do Sul, Laos, Tailândia e Malásia, entre outros”, diz Lívio Ribeiro, pesquisador associado do FGV/Ibre e sócio da BRCG Consultoria. O índice mostra que, nos Estados Unidos, parte dos embarques para outros países foram redirecionados dos portos da Costa Oeste americana, mais voltada à China, para a Costa Leste, que movimenta principalmente o comércio com os europeus. No caso da Europa, apesar da queda no fluxo dos portos do sul do continente, o crescimento médio ante 2024 ficou acima de 5% entre abril e julho. Em agosto, o crescimento foi de 2,7%. “No norte da Europa, os volumes de tráfego aumentaram acentuadamente desde a virada do ano”, explica Maatsch. Os dados mostram ainda um crescimento importante da movimentação nos portos da América do Sul: o crescimento do tráfego de contêineres nos portos do Brasil, taxado em 50% por Trump, foi de 8% e 6%, respectivamente, em comparação com 2024. “É um bom desempenho em relação à média de longo prazo”, diz Maatsch. Apesar dessa resistência às tarifas, o cenário benigno deve mudar em algum momento. Torsten Schmidt, economista responsável pela conjuntura econômica do RWI (Instituto Leibniz de Pesquisa Econômica), que também participa da elaboração do indicador, afirma que as tarifas elevadas estão forçando as empresas a reestruturarem suas cadeias de suprimentos internacionais. “O processo ainda está em andamento. Os efeitos totais das tarifas sobre os preços ainda não são visíveis. Portanto, a movimentação de contêineres provavelmente diminuirá no futuro”, afirma. É a mesma avaliação de Maatsch, que diz que, apesar do cenário de resiliência do comércio global, haverá mudanças permanentes no padrão do comércio global se as tarifas permanecerem no longo prazo. “Além disso, a política comercial dos EUA se tornou errática, e isso impulsionou a cooperação internacional em outras partes, como por exemplo no acordo comercial entre Mercosul e União Europeia”, diz. Ele acredita que as tensões geopolíticas e as consequências da pandemia também ajudam a afetar a globalização. “As empresas tentam reduzir sua dependência de longas cadeias de suprimentos ou de certos países. Isso pode levar a um crescimento comercial global mais lento”, avalia. Para Ribeiro, os impactos das tarifas são demorados, já que muitos contratos são de longo prazo. O ritmo do comércio global daqui para a frente, afirma, dependerá das possíveis reações à forte alta nas exportações da China a outros países como consequência das tarifas americanas. Se houver taxações à China em resposta a esse movimento, diz, a guerra comercial pode se intensificar. “Há alguns sinais preocupantes, como as tarifas extras aplicadas pela União Europeia aos carros elétricos chineses.” Leia Também: Lula diz que relação com a Malásia “muda de patamar” e assina pacote de cooperação

