Cada grão do café tem um toque de cuidado. A fazenda em Mococa, no interior de São Paulo, cultiva um café totalmente orgânico, ou seja, não usa nenhum tipo de agrotóxicos. “Hoje, quando a gente descobre uma doença, observa que tem uma doença na lavoura de café, a gente utiliza um outro microrganismo para controlar essa doença. Então é tudo uma questão de entender os princípios da natureza mesmo e estar sempre atento à ciência, às técnicas que os próprios produtores vêm desenvolvendo”, diz o engenheiro agrônomo João Araújo. A forma de cultivo abriu espaço no mercado internacional. Seiscentas toneladas desses grãos já foram ensacadas para serem exportadas e fizeram o primeiro trecho da viagem até o Porto de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo. Pelos próximos 24 dias, elas vão cruzar o Atlântico até a França, juntamente com sacas de semente de cacau brasileiro. A novidade na viagem é que todo o café será levado por um navio que usa o vento como principal fonte de energia. Em 2023, o Paraná recebeu um cargueiro com velas metálicas. Com elas em funcionamento, o navio consome menos combustível e emite 30% menos de carbono. O veleiro-cargueiro Artemis, que está no litoral norte de São Paulo, é menor. Mas em contrapartida, trabalha praticamente com emissão zero de carbono. Parte da energia vem de painéis solares. Só em casos extremos, quando não há vento o suficiente, a embarcação utiliza motor a combustão. Em ação inédita para a reduzir emissões de carbono, Brasil usa veleiro para exportar café e cacau para a Europa — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução Esse transporte feito dessa forma por um veleiro é a parte final de uma cadeia produtiva focada na sustentabilidade. Do plantio do grão no interior de São Paulo até a chegada na França, o processo carrega um compromisso maior com o meio ambiente, mas não deixa de mirar em alvos econômicos de um mercado internacional cada vez mais exigente. “É um navio especial, diferente de tudo o que a gente já recebeu por aqui, e está totalmente alinhado com essa agenda de descarbonização dos portos”, afirma Ernesto Sampaio, presidente do Porto de São Sebastião. O transporte marítimo é responsável por quase 3% das emissões globais de gases de efeito estufa, segundo a Organização Marítima Internacional. A meta do setor é reduzir as emissões até 2050. De janeiro a outubro de 2024, o Brasil exportou quase US$ 9 bilhões em café, um aumento de 54% em relação a 2023. “A gente tem informação do operador portuário e do próprio exportador de café de que esta é a primeira viagem de uma sequência de cinco que poderão ocorrer até o final de 2025”, diz Ernesto Sampaio. Anne, uma empresária francesa, é uma das compradoras, e quis ver de perto todo o processo para confirmar o que, para ela, está entre os melhores cafés do mundo.