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‘Financiamento não é caridade’, diz chefe da ONU para mudanças climáticas

por Luciana Caczan
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O secretário-executivo da ONU Mudanças Climáticas, Simon Stiell, afirmou, nesta quinta-feira (6), que “o financiamento climático não é caridade” e que, embora um país possa recuar, “outros já estão se posicionando para tomar o seu lugar e colher as enormes recompensas”.Ao assumir a presidência americana, em janeiro, Donald Trump determinou a saída dos Estados Unidos – pela segunda vez – do Acordo de Paris. O acordo climático é um dos principais tratados internacionais na área, tendo sido assinado em 2015. Quase 200 países se comprometeram a manter o aquecimento global abaixo de 2 graus Celsius e, idealmente, abaixo de 1,5 graus.“E sejamos claros, o financiamento climático não é caridade. É crucial para proteger as cadeias de suprimentos globais de desastres climáticos em espiral que estão alimentando pressões inflacionárias. É uma das muitas razões pelas quais a ação climática é cada vez mais uma questão em mesas de cozinha. Basta considerar o aumento dos preços dos alimentos, que têm as impressões digitais de secas, cheias, e incêndios florestais causados pelo clima por todo o lado. Acima de tudo, o financiamento climático salva vidas, em larga escala”, declarou.Apesar de não ter citado os Estados Unidos diretamente, ele disse que “um país pode recuar, mas outros já estão se posicionando para tomar o seu lugar e colher as enormes recompensas”. Como exemplo, citou “crescimento econômico mais forte, mais empregos, menos poluição e custos de saúde muito mais baixos, energia mais segura e acessível”.Stiell defendeu que é possível ver ações importantes e relevantes sendo tomadas, independentemente da retórica em torno daqueles que desejam recuar. Na avaliação dele, a transição para a energia limpa “agora é imparável” por conta da “oportunidade econômica que ela apresenta”.O secretário-executivo participou de uma palestra sobre o meio ambiente e financiamento climático no Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores, que forma diplomatas brasileiros, em Brasília. Em novembro deste ano, o Brasil sediará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), em Belém, no Pará.Ele discursou ao lado do presidente da COP 30, embaixador André Aranha Corrêa do Lago, e da diretora-geral do Instituto Rio Branco, embaixadora Mitzi Gurgel Valente da Costa.Corrêa do Lago ressaltou que as políticas sobre o clima não envolvem apenas os países e os respectivos governos federais, mas também outros atores, como a sociedade civil, governos locais e empresários.De acordo com o chefe da ONU para mudanças climáticas, cada US$ 1 investido em adaptação vale US$ 6 em contas de perdas e danos evitadas.Os países participantes da COP29, realizada em novembro do ano passado em Baku, no Azerbaijão, concordaram com uma meta financeira anual de US$ 300 bilhões até 2035 para ajudar os países mais pobres a lidar com os impactos das mudanças climáticas. O valor foi criticado por muitos países em desenvolvimento como amplamente insuficiente.Na fala aos diplomatas brasileiros, Stiell lembrou a existência dessa desigualdade.“Seria negligente da minha parte não destacar que essa expansão está se movendo em velocidades muito diferentes: influxos massivos de capital nas principais economias, impulsionando o crescimento econômico, mas muitas economias menores ainda não são capazes de compartilhar totalmente a expansão e seus vastos benefícios”, disse.Ele ainda considerou que os US$ 300 bilhões “são uma linha de base, não uma linha final”. “É essencial que mais fluxos financeiros sejam direcionados aos países em desenvolvimento, pois eles lutam contra custos colossais de serviço da dívida e custos altíssimos de capital.”“Dez anos depois de Paris, não teremos cumprido todos os nossos compromissos, mas é exatamente por isso que precisamos analisar como estamos envolvendo nossos participantes de mais alto nível.”

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