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‘Fizemos por medo do trote’, conta caloura de medicina que teve vídeo com perguntas sexuais vazado na internet em MG

por Redação
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Estudante que não quis se identificar deu detalhes sobre vazamento de vídeos pedidos por veteranos em universidade de Alfenas (MG). Uma das calouras que cursa medicina em Alfenas (MG) e que teve um vídeo vazado na internet com perguntas que incluíam conteúdo sexual, conversou com o G1 sobre a repercussão do caso. A pedido dos veteranos da Universidade José do Rosário Vellano (Unifenas), homens e mulheres, novatos do curso, gravaram os vídeos para um grupo particular, mas apenas as alunas tiveram o material compartilhado em outras redes sociais. “Acredito que várias não tinham vontade de fazer o vídeo, mas acabamos fazendo, até pelo medo do trote”.
Nos vídeos compartilhados em grupos de Whatsapp, as meninas aparecem gravando individualmente em modo “selfie”. É possível ver o rosto e identificar claramente cada aluna. A universidade informou que abriu um procedimento interno para apurar quem são os responsáveis pela gravação e divulgação dos vídeos.
Calouras de universidade em Alfenas (MG) tiveram vídeos vazados em redes sociais
Arquivo/Reprodução/EPTV
Cerca de 40 calouros de medicina gravaram os vídeos onde contam quais suas posições sexuais favoritas, qual última vez que passou mal por bebidas e em qual veterano cada um estaria interessado. A ideia era que o conteúdo ficasse limitado ao grupo de alunos de medicina, mas os vídeos vazaram para outros grupos e foram compartilhados em mais redes sociais.
“Na medicina, [o trote] é conhecido por ser horrível. Já descobrimos que na Unifenas não é assim, porém na época eu não sabia. Os veteranos pediram os vídeos para nós. De início, eu achei desnecessário e realmente é. Mas diziam que pedem todo ano. Só que esse ano vazou e por isso a repercussão”, explica a aluna que não quis ter o nome divulgado.
Comportamento machista
A estudante questiona o vazamento de vídeos apenas de mulheres. “Alguns meninos falaram até coisas mais íntimas que as meninas, mas infelizmente vivemos em uma sociedade machista em que nós meninas somos tratadas de forma sexual e vulgar”.
“Diferente dos meninos, que são apenas os ‘garanhões’, ‘engraçadões’ que mandaram o vídeo. Por que só nossa imagem é manchada?”
A aluna ainda afirma que professores e outros funcionários da universidade receberam os vídeos e se mostraram contrários. Em mensagens compartilhadas nas redes sociais, é possível ver as manifestações de alguns deles. A repercussão negativa fez com que os calouros decidissem não aplicar este tipo de trote para os próximos anos. “De qualquer forma, já foi conversado na nossa turma que nós não iremos pedir o vídeo e nem esse tipo de pergunta para nossos futuros calouros”.
Mais ações
Além dos vídeos, os veteranos da medicina também pedem a mudança de nomes dos calouros nas redes sociais – o apelido “bixo/bixete burra” deve ser adicionado ao nome. Também há sugestões para mudanças de fotos do perfil e capa, no Facebook.
Em um dos perfis, a amiga de uma das alunas questiona: “Gente é realmente necessário colocar burra no nome? Alguém obrigou vocês a fazerem isso?”.
Alunas também alteram redes sociais após vazamento de vídeos em MG
Reprodução/Facebook
Punição além do campus
A divulgação de vídeos com informações de cunho pessoal, sem autorização da pessoa que está sendo gravada, pode ter consequências além das carteiras da universidade. Segundo o juiz titular da Comarca de Muzambinho (MG), Flávio Schmidt, os responsáveis pela divulgação podem ser responsabilizados cível e criminalmente.
“Na verdade, nós temos que ver dois aspectos importantes neste caso, existem duas conotações muito claras. Primeiro, no que diz respeito à internet, ou seja, eles acabaram criando um constrangimento ilegal. Existe um crime nesse sentido, essa tipificação no Código Penal, obrigando esses calouros a fazer alguma coisa que eles não eram obrigados a fazer. Em um segundo aspecto, aí vem os chamados crimes cibernéticos, onde sem autorização dessas vítimas você espalhou pela internet um fato que é criminoso, que é o caso do crime cibernético. Nessa hipótese, essa turma de veteranos, no momento em que fez isso e divulgou os vídeos, eles cometeram o crime cibernético, expondo essas pessoas que são vítimas desse fato”, disse o juiz ao G1.
Ainda conforme o juiz, os responsáveis podem responder individualmente ou até em conjunto com a universidade.
“Em termos de responsabilização, existe tanto a parte criminal, de constrangimento ilegal, injúria, calúnia ou até difamação conforme a conotação das palavras utilizadas nesse caso e a responsabilização cível, que cada uma dessas vítimas pode acionar. Não só individualmente, mas inclusive se isso foi feito dentro das dependências da universidade, que é obrigada a ter o controle sobre isso”, completou Schmidt.
O que diz a lei
Uma lei estadual publicada em janeiro de 2018 proíbe a prática de trotes estudantis violentos em escolas do ensino médio, sejam públicas ou privadas. No caso do ensino superior, a prática é proibida em universidades públicas estaduais – não há menção a casos em universidades particulares, como a de Alfenas.
A lei explica que trotes violentos são aqueles com agressão física, psicológica, moral ou outra forma de constrangimento contra alunos. São previstas punições tanto a estudantes que praticam os trotes quanto para as instituições, em caso de omissão.
A universidade
Procurada pelo G1, a Unifenas informou nesta terça-feira (10) que por enquanto, não vai mais se manifestar sobre o assunto. Por nota, a instituição informou que vai apurar os responsáveis pelo ato e que vai aplicar as penalidades cabíveis aos envolvidos.
“A UNIFENAS, uma universidade que preza a responsabilidade com o compromisso social e educacional, proíbe e repudia qualquer prática ofensiva e/ou humilhante de recepção aos alunos ingressantes – trote. Assim, ao tomar conhecimento dos lamentáveis vídeos gravados por alunas ingressantes ao Curso de Medicina, câmpus de Alfenas, no mês de junho do corrente ano, instaurou processo administrativo, consoante previsão no Regimento da Universidade, no intuito de apurar os responsáveis pelo ato e aplicar as penalidades cabíveis aos envolvidos, respeitando sempre os princípios constitucionais da ampla defesa e contraditório no procedimento instaurado.”
A Atlética Medicina Alfenas, que atua em eventos sociais e espotivos do curso de Medicina, também publicou uma nota nas redes sociais sobre o caso. A Atlética afirmou que não participa, nem organiza nenhuma ação de trote, seja em grupos, vídeos ou outros meios.
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