Um memorando de entendimento (MOU) havia sido assinado em dezembro de 2024, considerando a integração das duas companhias. Depois do período de negociações, Honda e Nissan disseram em nota que o acordo foi revogado depois da decisão das marcas de “priorizar a rapidez na tomada de decisões e na execução de medidas de gestão em um ambiente de mercado cada vez mais volátil”. “No futuro, a Nissan e a Honda colaborarão dentro do framework de uma parceria estratégica voltada para a era da inteligência e dos veículos eletrificados, esforçando-se para criar novo valor e maximizar o valor corporativo de ambas as empresas”, dizem as empresas. As montadoras abriram as conversas para ganharem tração em pesquisa, desenvolvimento e distribuição em um setor que enfrenta crescente competição chinesa e de outros fabricantes de carros eletrificados. Como a Honda tem valor de mercado de cerca de US$ 51,9 bilhões, mais de cinco vezes maior do que a Nissan, a empresa nomearia grande parte dos executivos, incluindo o CEO do novo grupo, enquanto a Nissan seria uma subsidiária — o que desagradou a fabricante do Kicks. Além disso, a Nissan está no meio de um plano de recuperação em que pretende demitir 9 mil funcionários e reduzir 20% sua capacidade global. As negociações sobre a união coincidiram com a perturbação causada pelas possíveis sobretaxas de importação propagadas com frequência pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. As tarifas contra o México serão mais dolorosas para a Nissan do que para a Honda ou a Toyota, segundo analistas. Descubra os 5 carros mais vendidos em janeiro Quando as primeiras notícias sobre a aliança entre Honda e Nissan surgiram na imprensa internacional, uma grande questão ficou no ar: como ficaria a parceria Renault-Nissan- Mitsubishi? A Renault, havia dito que estaria aberta, em princípio, à fusão com a Honda. A montadora francesa possui 36% da Nissan, incluindo 18,7% por meio de um fundo francês. Por mais que a intenção da Nissan e da Honda fossem a de rivalizar com a pujante indústria chinesa, com mais de um terço das ações da Nissan, a Renault teve grande influência na decisão. Dias após o anúncio da intenção da fusão, a fabricante francesa se manifestou com a seguinte nota: “O Renault Group reconhece os anúncios feitos pela Nissan e Honda que ainda estão numa fase inicial.” “Como principal acionista da Nissan, o Renault Group considerará todas as opções com base no melhor interesse do Grupo e de seus stakeholders. O Renault Group continua a executar sua estratégia e a implementar projetos que criam valor para o Grupo, incluindo projetos já lançados no âmbito da Alliance”, continuou a nota. De acordo com Milad Kalume Neto, consultor independente do setor automotivo, a Renault já pensava em se proteger no caso de uma saída da Nissan. “Como principal acionista da Nissan, a Renault indicava que iria exercer seus únicos interesses, considerando desde a cisão até a manutenção do negócio. E o que valerá será o que a Renault e seus acionistas definirem”, explica o especialista. “Alliance (as três marcas atuais) em primeiro lugar, o que serve como um lembrete para a Nissan de que serão lançados modelos elétricos da Nissan em breve no mercado europeu, com tecnologia Renault, o que poderá ser um problema para a Nissan.” “Resumindo, não vejo a possibilidade de a Nissan falir, mas a empresa não está bem. A Nissan só poderia se movimentar se a Renault quisesse. Caso contrário, a briga judicial seria enorme”, continuou. Como ocorre uma fusão? Assim como no caso do Grupo Stellantis, que uniu marcas como Fiat, Chrysler, Peugeot e Citroën, uma fusão exige uma série de ajustes por parte de todas as empresas envolvidas. Uma diligência prévia é realizada, administrada por uma auditoria independente, para verificar, entre outros fatores, a saúde financeira das empresas que pretendem se fundir. “Essa auditoria é totalmente confidencial. Não se sabe o que a Honda pode ter encontrado sobre a Nissan e vice-versa. Provavelmente, a Honda não gostou da atual situação da concorrente, e quem sairá perdendo será a Nissan. É preciso considerar, ainda, as necessidades de fechamento de fábricas”, analisa Cássio Pagliarini, diretor de estratégia da Bright Consulting. E no Brasil? Aqui, a Nissan depende das boas vendas de seu utilitário esportivo compacto, o Kicks. Em 2024, o SUV fechou o ano entre os 10 carros mais vendidos, com 60.437 unidades comercializadas. Enquanto isso, Versa, Sentra e Frontier não tiveram um desempenho tão bom no ranking geral de vendas. O Versa, concorrente direto de Chevrolet Onix Plus, Hyundai HB20S e Fiat Cronos, registrou 11.628 emplacamentos em 2024, ficando na 41ª posição divulgado pela Fenabrave. Esse número é bem distante das 59.960 unidades do Onix Plus. O Sentra, um sedã médio, teve 6.014 unidades vendidas de janeiro a dezembro de 2024, ocupando a 47ª posição no ranking geral. Isso é significativamente menor que as 37.668 unidades do Toyota Corolla, líder da categoria. Por sua vez, a picape Frontier vendeu 9.258 unidades em 2024, uma diferença de 40.752 unidades em comparação com a Toyota Hilux, líder da categoria. Contudo, segundo o diretor da Bright Consulting, “apesar de vender poucas unidades dos modelos citados aqui no mercado brasileiro, o fato de a Nissan produzir em fábricas brasileiras para exportar para países vizinhos, pode fortalecer as instalações brasileiras. É difícil a Nissan falir”, comenta Pagliarini.