Na janela de 12 meses, o IPCA acumulou 5,35%. Com o resultado, ficou confirmado que o Brasil descumpriu a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). 🔎 A meta central de inflação é de 3% ao ano, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos — ou seja, a inflação pode variar entre 1,5% e 4,5% sem que a meta seja considerada oficialmente descumprida. Pela nova regra da meta contínua — em vigor desde janeiro — há descumprimento quando a inflação oficial permanece fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos. E foi exatamente o que ocorreu: de janeiro a junho, o IPCA acumulado em 12 meses ficou acima do teto de 4,50%. (veja abaixo os grupos e itens que mais contribuíram para o estouro) Em junho, o principal destaque de alta foi a energia elétrica residencial, com alta de 2,96% no mês e maior impacto individual no índice (0,12 p.p.). No primeiro semestre, a alta da conta de luz foi de 6,93%, também com o principal impacto positivo individual (0,27 p.p.). “Esta variação é a maior para um primeiro semestre desde 2018, quando foi de 8,02%”, destaca Fernando Gonçalves, gerente do IPCA. O especialista destaca que a trajetória da energia em 2025: “no início do ano, com o bônus de Itaipu, houve queda em janeiro, reversão em fevereiro e, depois, bandeira verde. No mês passado, entrou em vigor a bandeira amarela e, agora, a vermelha”, explica. Por outro lado, o grupo Alimentação e bebidas teve o primeiro recuo em nove meses (-0,18%), ajudando a conter a inflação do mês. A contribuição negativa foi de 0,04 p.p. Ainda assim, o grupo teve a maior alta percentual e de peso no IPCA em 12 meses. (veja abaixo) Veja o resultado dos grupos do IPCA em maio Oito dos nove grupos pesquisados pelo IBGE apresentaram alta: Habitação: 0,99%Artigos de residência: 0,08%;Vestuário: 0,75%;Transportes: 0,27%;Saúde e cuidados pessoais: 0,07%;Despesas pessoais: 0,23%;Educação: 0,00%;Comunicação: 0,11%. Apenas um item dos grupos pesquisados teve queda: Alimentação e bebidas: -0,18% O que contribuiu para o estoura da meta Segundo Fernando Gonçalves, ao longo desse período houve aumento relevante nos grupos de alimentação, educação e transporte (incluindo a gasolina), o que ajuda a explicar por que a inflação acumulada em 12 meses ultrapassou o teto da meta. O grupo Alimentação e bebidas teve a maior variação em 12 meses, e a maior peso no índice geral (1,44 p.p.). Veja a variação dos grupos em 12 meses: Alimentação e bebidas: 6,66% Educação: 6,21% Despesas pessoais: 5,81%Habitação: 5,30%Saúde e cuidados pessoais: 5,16%Transportes: 5,11%Vestuário: 4,68%Artigos de residência: 2,66%Comunicação: 2,16% Dentre os 377 subitens do IPCA, as carnes tiveram a maior contribuição para o resultado final. Veja os que mais contribuíram para a alta em 12 meses: Carnes: 0,55 p.p. (variação de 23,63%)Gasolina: 0,34 p.p. (variação de 6,60%)Café: 0,32 p.p. (variação de 77,88%)Cursos regulares: 0,29 p.p. (variação de 6,50%)Plano de saúde: 0,28 p.p. (variação de 7,03%) Conta de luz pesou na inflação do mês 🌤️Segundo a Aneel, a medida foi adotada devido à redução no volume de chuvas e à consequente queda na geração de energia pelas hidrelétricas, conforme projeções do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Para compensar a baixa, será necessário acionar usinas termoelétricas, que possuem custo de produção mais alto. A energia elétrica residencial, com alta de 2,96%, foi o subitem de maior impacto individual no índice do mês, contribuindo com 0,12 p.p. Também foram registrados reajustes em Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e Rio de Janeiro. Assim, o grupo Habitação, que subiu 0,99%, também foi influenciado pelo aumento na taxa de água e esgoto, que teve alta de 0,59%. No mês, o grupo contribuiu com 0,15 p.p. para o índice geral. Nova Tarifa Social vai dar descontos de até 100% na conta de luz de cearenses — Foto: TV Verdes Mares/Reprodução Queda nos alimentos Segundo o IBGE, a queda foi influenciada pela alimentação no domicílio, que passou de 0,02% em maio para -0,43% em junho, com recuos nos preços do ovo de galinha (-6,58%), arroz (-3,23%) e frutas (-2,22%). Em contrapartida, o tomate teve alta de 3,25%. A alimentação fora do domicílio desacelerou para 0,46% em junho, ante 0,58% em maio. O lanche subiu de 0,51% para 0,58%, enquanto a refeição caiu de 0,64% para 0,41% no mesmo período. A queda no grupo Alimentação e bebidas se refletiu no índice de difusão de junho — que mede o percentual de subitens com variação positiva — passando de 60% em maio para 54% em junho. Entre os itens alimentícios, o índice de difusão caiu de 60% para 46%. Já entre os não alimentícios, a taxa permaneceu em 60%. O IBGE atribui essa queda ao aumento na produção da safra. “Foi o menor índice de difusão desde julho de 2024 (47%), quando o grupo Alimentação também apresentou uma redução em sua taxa (-1%)”, observa o gerente. “Se tirássemos os alimentos do cálculo do IPCA, a inflação do mês seria de 0,36%. E se tirássemos a energia elétrica, ficaria em 0,13%”, conclui Fernando Gonçalves. O grupo Transportes também teve contribuição positiva relevante no mês, com alta de 0,27% após recuo de 0,37% em maio, impactando o índice geral em 0,05 p.p. Apesar da queda nos combustíveis (-0,42%), os aumentos no transporte por aplicativo (13,77%) e no conserto de automóveis (1,03%) impulsionaram a alta do grupo. No grupo Vestuário, que subiu 0,75% e contribuiu com 0,04 p.p. em junho, destacaram-se as altas na roupa masculina (1,03%), nos calçados e acessórios (0,92%) e na roupa feminina (0,44%). INPC fica em 0,23% O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), utilizado como referência para reajustes do salário mínimo e que calcula a inflação para famílias de renda mais baixa, registrou uma alta de 0,23% em junho. Em maio, o índice havia subido 0,35%. Com isso, o INPC acumulou uma alta de 5,18% nos 12 meses até maio de 2025.
IPCA: preços sobem 0,24% em junho, e país estoura meta de inflação
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