O prédio pertence à Caoa Patrimonial, empresa que move a ação por atraso em vários aluguéis, além de dívidas de IPTU. A decisão pelo despejo coercitivo foi tomada pelo juiz Marcos Duque Gadelho Júnior, da 23ª Vara Cível, que determinou a expedição de urgência do mandado de desocupação contra a empresa, que enfrenta um processo de recuperação judicial. A ordem de despejo aconteceu no mesmo dia em que os desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) julgaram um agravo de instrumento em favor do proprietário do imóvel, determinando igualmente a desocupação imediata do prédio sede da Eataly Brasil. No acórdão, os desembargadores dizem que “não há mais entraves jurídicos, administrativos ou materiais que impeçam a correta execução da ordem de despejo, que deve ser imediatamente cumprida”, uma vez que a empresa já tinha sido intimada a deixar o prédio do Itaim Bibi duas vezes, a última em 19 de dezembro do ano passado. Imagem interna do prédio da Eataly na Avenida Juscelino Kubitschek, no Itaim Bibi, Zona Sul da capital paulista. — Foto: Divulgação/Eataly A Eataly havia recorrido e, por causa do recesso judiciário, o processo foi se arrastando. “Embora não se desconheça a relativa complexidade fática do caso, ao contrário do que considerou o magistrado na r. decisão agravada, tal circunstância não deve obstar o imediato cumprimento do despejo, pois a primeira ordem liminar de desocupação foi deferida em agosto de 2024, estando a locatária, há tempos, ciente do risco de ser afetada pela ordem”, escreveu a relatora do caso, Ana Lúcia Romanhole Martucci. A Caoa Patrimonial entrou com um pedido de despejo contra a recuperação judicial da Eataly, em março do ano passado, alegando falta de pagamento de aluguéis e outras obrigações. Mas em 18 de dezembro do ano passado, a Eataly apresentou um pedido de recuperação judicial e solicitou a suspensão da ordem de despejo, classificando o imóvel como essencial para o seu funcionamento e reestruturação da empresa. A Justiça, inicialmente, acolheu a solicitação, mas agora a liminar caiu, colocando em xeque os planos da companhia de continuar a operação normal em São Paulo. Histórico A rede Eataly surgiu em Turim, Itália, em 2007, com a abertura da primeira loja em uma antiga fábrica de vermute. O nome é uma junção das palavras inglesas “eat” (comer) e “Italy” (Itália). O objetivo na Itália era reunir alimentos italianos de alta qualidade em gôndolas e restaurantes, além de cursos sobre a culinária tradicional do país. A Eataly chegou ao Brasil em 2015, por meio de dois empresários sócios do supermercado St. Marche, sendo vendida posteriormente para o grupo SouthRock, companhia que administrava o Subway e a Starbucks no país. A empresa se estabeleceu em São Paulo como centro gastronômico de luxo. Uma espécie de Daslu da gastronomia, baseado no Itaim Bibi. Em 2023, os direitos da franquia foram novamente repassados, dessa vez ao fundo Wings, em um acordo que envolvia o pagamento de R$ 3,5 milhões mais as dívidas, em duas parcelas. Porém, o fundo Wings não realizou os pagamentos constantes no acordo e novamente a posse da empresa voltou para a SouthRock. A dívida registrada pela empresa é de R$ 1,8 bilhão — Foto: Reprodução A companhia comanda operações da Starbucks e a Eataly, via licenciamento e franquias, no Brasil. O documento foi protocolado pelo escritório Thomaz Bastos, Waisberg, Kurzweil Advogados na 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo. Além disso, a crise econômica e o período da pandemia da Covid-19 derrubaram o lucro da empresa. Em 2020, a SouthRock teve uma queda de 95% nas vendas, além de seus parceiros comerciais ficarem inadimplentes (quando não conseguem arcar com as dívidas). Em 2021, a queda foi de 70%; 2022, 30%. “Motivo pelo qual a plena recomposição de seu fluxo de caixa ainda não foi atingida”, escreveu a empresa no documento de recuperação. “Foi este o cenário que, lamentavelmente, gerou essa crise sem precedentes da empresa após o estado de calamidade pública instaurado”. Dessa forma, a empresa informou que o pedido busca garantir a continuidade de sua atividade empresarial, além de manter os postos de trabalho, a produção de bens, a geração de riquezas e o recolhimento de tributos. Em nota, a empresa informou que todas as marcas continuarão operando e entregando os produtos exclusivos, enquanto a empresa passa pelo processo de recuperação (veja o posicionamento completo da SouthRock Capital mais baixo). A SouthRock foi criada em 2015, buscando operar com marcas de alimentos e bebidas pelo Brasil. As primeiras lojas inauguradas foram dois anos depois, nos maiores e mais movimentados aeroportos do Brasil, como no Rio de Janeiro e Brasília. Em 2018, a empresa se tornou controladora da Starbucks e TGI Fridays. E, no ano passado, passou a operar no centro gastronômico Eataly, localizado em São Paulo. Fachada da rede de cafeterias Starbucks na cidade de São Paulo — Foto: Marcello Zambrana/AGIF/AGIF via AFP/Arquivo Veja a nota completa da empresa abaixo: Ao longo dos últimos três anos, desde que a pandemia da COVID-19 transformou drasticamente a vida de todos ao redor do mundo, incontáveis empresas, incluindo varejistas, têm sido vistas lutando para manter suas operações. Os desafios econômicos no Brasil resultantes da pandemia, a inflação e a permanência de taxas de juros elevadas agravaram os desafios para todos os varejistas, incluindo a SouthRock. Neste cenário, a SouthRock segue comprometida a defender a sua missão e seus valores, enquanto entra em uma nova fase de desafios, que exige a reestruturação de seus negócios para continuar protegendo as marcas das quais tem orgulho de representar no Brasil, os seus Partners (colaboradores), consumidores e as operações de suas lojas. O processo de reestruturação da SouthRock já começou, com o apoio de consultores externos e stakeholders. Mas, o trabalho deve continuar, então a SouthRock solicitou, hoje, Recuperação Judicial para proteger financeiramente algumas de suas operações no Brasil atrelado a decisões estratégicas para ajustar seu modelo de negócio à atual realidade econômica. Os ajustes incluem a revisão do número de lojas operantes, do calendário de aberturas, de alinhamentos com fornecedores e stakeholders, bem como de sua força de trabalho tal como está organizada atualmente. Estas decisões são tomadas para garantir que a empresa esteja preparada para navegar no atual ciclo econômico, à medida em que reforçam o compromisso da SouthRock com os negócios em curso, com sua responsabilidade social e corporativa e com todas as partes envolvidas em meio à volatilidade do mercado. Enquanto esses ajustes estruturais são implementados, todas as marcas continuarão operando e entregando os produtos exclusivos e as experiências únicas que cada uma delas oferece aos consumidores que visitam suas lojas todos os dias. A SouthRock segue comprometida em continuar trabalhando em estreita colaboração com seus parceiros comerciais para criar as condições necessárias para seguir desenvolvendo e expandindo todas as suas marcas no Brasil ao longo do tempo.