SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mulheres que tiveram imagens vazadas em grupos de Telegram relatam que enfrentaram problemas no trabalho, consequências psicológicas e medo. “Só saio de casa de óculos grandes e camisetas largas”, diz uma delas. A denúncia foi publicada primeiramente pelo G1 e confirmada pela reportagem. Em nota, o Telegram afirma que o compartilhamento de pornografia não consensual é explicitamente proibido e é removido sempre que descoberto. “Os moderadores monitoram proativamente as partes públicas da plataforma e aceitam denúncias para remover milhões de peças de conteúdo prejudicial todos os dias”, diz a plataforma. Ao G1, a empresa afirmou que os grupos “Cremosinhas da Putaria” e “Vazadinhas Inéditas” já foram deletados e que pode divulgar para autoridades o endereço IP, além do número de telefone de criminosos que violam seus termos de serviço em resposta a solicitações legais válidas. Os casos de 12 vítimas foram apresentados para a bancada feminista do PSOL na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) e Câmara Municipal, que levou a denúncia para o MPF (Ministério Público Federal). O órgão afirma que solicitou à Polícia Federal a abertura de um inquérito policial. A reportagem conversou com duas das vítimas que denunciaram terem tido imagens e vídeos íntimos divulgados em grupos do Telegram. Elas concordaram em relembrar seus casos em condição de anonimato. Ambas compartilham traumas parecidos, apagaram contas nas redes sociais com medo de retaliação e se sentem sem saída. “Eu quero justiça, mas não acredito que vá acontecer algo”, lamenta uma delas, que vive em São Paulo. Ela relata que foi vítima de perseguição e ameaça por um ex-companheiro, que conheceu no forró em 2023. Ao longo da relação, ele mantinha comportamentos misóginos e agressivos. Quando terminou, tudo piorou. Ele passou a abordá-la em festas e ameaçá-la sempre que eles se encontravam. “Não conseguia mais dormir”, relembra a vítima. A mulher afirma que, na época do término, sofreu ameaças de morte e conseguiu uma medida protetiva contra o ex. Ele chegou a ficar detido por poucos meses após descumprir a medida. Ela acredita que o ex hackeou seu celular e encaminhou imagens íntimas dela para outros homens. Em um episódio, relata que dois homens foram até a sua casa para vê-la, pois acreditavam que estavam conversando com ela por aplicativo de mensagens. A moça não os conhecia. Era seu ex, ela conta, que se passava por ela e divulgava seu endereço a outros nomes. A vítima descobriu que suas imagens estavam no grupo “Cremosinhas da Putaria” após um homem mandar mensagem para alertá-la. Ele explicou para ela que, para entrar nesse grupo, é preciso expor uma mulher, com o rosto e fotos dela nua, além de pagar R$ 50 mensais. O rapaz também teria dito a ela que o grupo tem mais de 150 homens, todos ligados ao forró, incluindo membros de bandas, professores de dança e frequentadores de festas. O grupo existe há mais de oito anos, ainda segundo essa pessoa, que também compartilhou um print da capa do grupo, onde ela reconheceu uma foto íntima dela. Após ter denunciado todo o caso para autoridades, ela sente medo que ele busque vingança. A vítima recebe auxílio psicológico e faz tratamento com remédios. Outra mulher, que vive na Itália, relata que costumava frequentar festas de forró na Europa. Em uma delas, conheceu um músico e eles ficaram algumas vezes em 2023. Passou a considerar ele uma pessoa de confiança. Porém, no trabalho, começou a ser tratada de uma forma diferente por colegas e foi assediada durante uma reunião com perguntas sobre gostos sexuais. Ela também passou a perceber comportamentos estranhos em festas de forró, como comentários na linha “essa é a menina do vídeo”. Também começou a receber imagens de homens que ela não conhecia, por meio do Instagram, que a convidavam para sair para jantar. Até hoje, ela não sabe exatamente o que tinha nesse vídeo e quem a expôs. Mas, desconfia que vídeos seus foram expostos no grupo “Vazadinhas Inéditas” -na descrição do grupo é dito que a comunidade reunia conteúdos de mulheres que frequentam festivais na Europa. A situação fez ela desenvolver um trauma que acabou a afastando por um tempo do trabalho. Denunciou na empresa o assédio que sofreu de colegas, mas relata que não houve apuração interna, e foi ela quem acabou demitida, em junho deste ano.Além de estar sem trabalho, lida com medo e ansiedade para sair de casa e ser reconhecida por outras pessoas. “Eu não fui agredida, ninguém me bateu, ninguém me forçou a nada, mas eu não queria ter sido exposta”, lamenta ela.