Home » Multinacionais que doaram para Trump têm fábricas no Brasil que podem ser afetadas pelo tarifaço

Multinacionais que doaram para Trump têm fábricas no Brasil que podem ser afetadas pelo tarifaço

por Folhapress
0 comentário
multinacionais-que-doaram-para-trump-tem-fabricas-no-brasil-que-podem-ser-afetadas-pelo-tarifaco

THIAGO BETHÔNICOSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando contribuíram para que a cerimônia de posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos fosse a mais cara da história do país, unidades americanas de multinacionais com presença no Brasil sabiam que o novo governante prometia uma guerra tarifária. Agora, as operações brasileiras desses grupos se preparam para sentir esse efeito. Empresas como a fabricante de máquinas Caterpillar, as farmacêuticas Dow e MSD (Merck Sharp & Dohme), além de nomes tradicionais como General Motors, Toyota, Johnson & Johnson, Pepsico e Bayer destinaram milhões de dólares para a posse do líder americano, em janeiro deste ano. O impacto da sobretaxa de 50% -que deve começar a valer nesta sexta-feira (1º)- sobre suas atividades no Brasil deve ser desigual, já que algumas visam o mercado brasileiro e o de países vizinhos. Já as companhias que enviam produtos para os Estados Unidos podem sofrer com a cobrança. É o caso da Caterpillar, que produz mais de 250 modelos de máquinas, escavadeiras, tratores e outros equipamentos em fábricas localizadas em Piracicaba (SP), Curitiba, Hortolândia (SP), Sete Lagoas (MG) e Campo Largo (PR). Nos EUA, a empresa doou US$ 100 mil (R$ 557 mil) para a posse de Donald Trump, segundo relatório apresentado à Comissão Federal Eleitoral (FEC, na sigla em inglês), e agora o impacto em sua unidade brasileira levanta preocupações até para o Governo de São Paulo. Em evento no último sábado (26), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse que os efeitos do tarifaço podem ser severos.”O que me preocupa é uma empresa global como a Caterpillar, que exporta muito para os EUA, poder desligar a chave aqui e ligar em outro lugar para fazer essa exportação”, afirmou. Procurada, a companhia não respondeu até a publicação deste texto. No último dia (16), representantes da Caterpillar se reuniram com o vice-presidente Geraldo Alckmin e com outras empresas americanas que declararam apoio ao Brasil para reverter tarifas de Trump. “Nós queremos todo mundo unido para resolver essa questão. E as empresas têm um papel importante, tanto as brasileiras, que aliás tem empresa brasileira que tem indústria nos Estados Unidos, quanto as empresas americanas. A General Motors comemorou esse ano, participei do seu centenário no Brasil. A Johnson & Johnson tem 90 anos, a Caterpillar tem 70 anos, muitas delas exportam para os Estados Unidos”, disse Alckmin. A doação de US$ 100 mil feita pela Caterpillar é pequena quando comparada às de outras multinacionais. O comitê responsável pela cerimônia levantou US$ 246 milhões (R$ 1,3 bilhão) em doações, um recorde. Desse total, mais de US$ 12 milhões (R$ 67 milhões) vieram de 12 companhias com fábricas no Brasil. A unidade americana da japonesa Toyota, por exemplo, doou US$ 1 milhão (R$ 5,5 milhões) ao evento que marcou o início do mandato de Trump. Em nota, a montadora disse que exporta motores do Corolla do Brasil para os Estados unidos, mas não deu estimativa de impacto com o tarifaço. A companhia -que tem fábricas nos municípios paulistas de Indaiatuba, Sorocaba e Porto Feliz- afirmou estar acompanhando as discussões entre os governos e aguardando os próximos passos sobre o tema. “Ainda não existe nenhuma regra em vigor e depende das devidas regulamentações. Nesse sentido, o que temos feito é monitorar e focar na excelência e qualidade de nossas atividades industriais.” Sobre a doação, a Toyota Brasil disse que não comenta as iniciativas feitas por unidades em outros países. A maior doadora de todo o evento foi uma subsidiária americana da brasileira JBS, a Pilgrim’s Pride, que destinou US$ 5 milhões (R$ 28 milhões). Embora seja uma grande exportadora, a JBS não deve ser tão impactada pelo tarifaço. Isso porque o gigante brasileiro também é o maior player do setor de carnes dos EUA e pode abastecer uma parte relevante do mercado americano com suas operações naquele país. No entanto, o grupo tem fábricas no Brasil que exportam para os EUA. Algumas unidades em Mato Grosso do Sul, por exemplo, chegaram a suspender a produção voltada ao mercado americano neste mês após importadores avisarem que cessariam as compras por causa das tarifas. O Brasil é hoje o principal exportador mundial de carne. Cálculos da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária) indicam que o agronegócio deixará de exportar R$ 5,8 bilhões aos EUA com a sobretaxa. A Folha de S.Paulo questionou a JBS sobre a exposição da empresa ao tarifaço e perguntou sobre a doação de sua subsidiária americana à posse de Trump, mas não teve resposta até a publicação deste texto. O braço americano da farmacêutica Abbott, que no Brasil tem operações industriais no Rio de Janeiro e Belo Horizonte, destinou US$ 500 mil (R$ 2,7 milhões) para o evento republicano. A empresa não comentou o cenário específico para o Brasil diante das tarifas. Recentemente, porém, disse esperar um impacto em suas operações globais de US$ 200 milhões (R$ 1,1 bilhão) em custos relacionados às sobretaxas. A reportagem tentou contato com outras sete companhias (GM, MSD, Johnson & Johnson, Bayer, Stellantis, Honeywell e Dow), mas não teve resposta sobre os questionamentos. A Pepsico disse que não comentaria o assunto. Na última sexta-feira (25), a Amcham (Câmara Americana de Comércio para o Brasil) publicou um estudo que indica que uma queda no faturamento das unidades brasileiras pode, ao final, acabar afetando também a contraparte americana. Os dados mostram um aumento no comércio intercompanhia entre Brasil e EUA, que são as trocas entre empresas do mesmo grupo econômico –ou seja, entre filiais ou subsidiárias de uma mesma empresa multinacional. Segundo o levantamento, quase 34% da corrente de comércio bilateral entre ambos os países em 2024 foi realizada entre empresas do mesmo grupo, volume que chegou a US$ 31 bilhões em transações bilaterais do tipo. Segundo a Amcham, assim como nas trocas em geral, os EUA possuem superávit no comércio intercompanhia. Entre 2023 e 2024, o superávit dos EUA nessas trocas com o Brasil mais que dobrou, reflexo da intensificação do envio de produtos entre filiais e matrizes norte-americanas instaladas no Brasil.

você pode gostar