Em artigo publicado nesta sexta-feira (11), o ganhador do Prêmio Nobel de Economia classificou a taxação como “descaradamente ilegal” e afirmou que a decisão do republicano “não tem nada a ver com economia”, sendo, na verdade, uma “tentativa de interferir na política de outro país”. “Escrevi outro dia sobre a tarifa de Trump para o Brasil, que é, como eu disse, maligna e megalomaníaca. Mas esqueci de destacar que ela é descaradamente ilegal”, diz o economista. “Talvez — provavelmente — a Suprema Corte esteja tão corrompida neste ponto que irá ratificar qualquer coisa que Trump fizer. Mas não podemos ao menos colocá-los contra a parede? Não podemos forçar Scott Bessent a explicar por que apoia um abuso tão grotesco do poder presidencial?”, continua. Krugman explica que a legislação dos EUA realmente concede ao Poder Executivo ampla “margem” para impor tarifas sem necessidade de aprovação legislativa adicional. “Isso existe por um motivo: tarifas temporárias foram concebidas como uma válvula de escape política que tornaria sustentáveis as tarifas baixas resultantes de acordos internacionais.” “Isso funcionou bem enquanto tivemos presidentes responsáveis; tem sido um desastre sob Trump”, afirma. Ainda de acordo com Krugman, as tarifas só podem ser aplicadas com base em justificativas específicas. Seção 201- disrupção de mercado: a seção determina que se houver um aumento repentino nas importações que coloque alguma indústria dos EUA em risco, o governo pode impor tarifas temporárias para dar tempo à indústria de se readaptar; Seção 232 – segurança nacional: a lei determina que tarifas podem ser usadas para sustentar indústrias que possam ser necessárias durante confrontos internacionais;Seção 301 – práticas desleais: nesse caso, a seção determina que tarifas podem ser usadas para compensar, por exemplo, subsídios à exportação de países estrangeiros;Direitos antidumping: determina que tarifas possam ser impostas quando empresas estrangeiras venderem abaixo do custo;Emergência Econômica Internacional: determina que o presidente dos EUA tem amplos poderes para definir tarifas durante uma crise econômica. Paul Krugman em encontro com Biden na Casa Branca, em agosto de 2023 — Foto: Adam Schultz/Official White House Photo Segundo Krugman, Trump “abusou enormemente” dessas justificativas — especialmente da última, já que os EUA não enfrentam nenhuma emergência econômica e, conforme o próprio Trump declarou, a economia do país vai muito bem. “Mas a tarifa contra o Brasil é outra coisa: não tem nada a ver com economia, é uma tentativa de interferir na política de outro país. Quem diz isso? O próprio Trump”, diz o economista, destacando o início da carta enviada pelo republicano ao presidente brasileiro. “Recado para a grande mídia: Não, Trump não está ‘testando os limites de sua autoridade’ ou qualquer outro eufemismo. Ele está violando a lei. Ponto final. E isso deveria ser noticiado dessa forma.”, conclui. Defensor de Bolsonaro Nesta sexta-feira (11), o presidente norte-americano afirmou que pretende conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre as novas taxas “em algum momento, mas não agora”, destacando que ele está “tratando o presidente Bolsonaro de forma muito injusta”. Lula respondeu afirmando que o processo judicial contra os envolvidos na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023 é de competência exclusiva da Justiça brasileira, e “não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”. “O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”, disse Lula, em manifestação oficial após a publicação da carta de Trump nas redes sociais. “É importante a gente deixar claro para opinião pública que não é uma taxação ao Brasil. Ele vem taxando todos os países do mundo desde que tomou posse. É um direito dele, mas é um direito dos países reagir”, disse Lula.