Em um momento em que o Brasil enfrenta desafios econômicos e sociais urgentes, como a alta no preço dos alimentos, a crise na saúde e os problemas de segurança pública, o Congresso Nacional escolhe dar prioridade a um tema que não interessa à população: a própria proteção contra investigações criminais. A chamada “PEC da Blindagem” é uma proposta ainda informal, sem pontos definidos. Mas serviria para limitar ações policiais contra parlamentares e restringir buscas no Congresso. A discussão, já ventilada em outros momentos, ressurge em resposta direta às recentes operações da Polícia Federal, que miram o desvio de recursos de emendas parlamentares e trouxeram à tona um esquema de corrupção que envolvia até celulares escondidos em forros e dinheiro guardado em buracos secretos. A proposta de emenda à Constituição preveria, por exemplo, que, caso haja um pedido de prisão contra parlamentares em exercício, eles ficariam detidos dentro das dependências do Congresso, criando uma espécie de “área de confinamento” para deputados e senadores acusados de crimes. Congressistas também falam em eventual autorização das direções de Senado e Câmara para operações serem feitas no parlamento. Na prática, a medida impediria que investigações avançassem de forma efetiva e dificultaria a aplicação de punições concretas. Isso ocorre em um contexto onde já existe um Conselho de Ética que opera de forma lenta e raramente impõe penalidades significativas a parlamentares envolvidos em escândalos. O Congresso deveria estar preocupado em debater soluções para o país, como maneiras de aliviar o custo de vida da população e fortalecer o combate à corrupção. No entanto, o foco parece ser, mais uma vez, a autopreservação. Com as recentes investigações envolvendo assessores e gabinetes, e com a perspectiva de que novas apurações sobre emendas parlamentares avancem, o Parlamento se mobiliza para criar barreiras e dificultar punições. A proposta, se aprovada, representaria um retrocesso e um claro desrespeito à expectativa da sociedade, que deseja ver políticos sendo responsabilizados por seus atos, e não protegidos por mecanismos criados sob medida para garantir impunidade. O avanço dessa PEC só reforça o espírito de corpo do Congresso, colocando os interesses dos parlamentares acima dos anseios da população.
PEC da Blindagem é escárnio com a população e evidencia espírito corporativo do Congresso
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