Crédito, BBC BrasilLegenda da foto, Protesto catalão nas ruas de Edimburgo pela independência da EspanhaAuthor, Pablo UchoaRole, Enviado especial da BBC Brasil a Edimburgo18 setembro 2014Não só os eleitores, mas também as bandeiras saíram às ruas de Edimburgo nesta quinta-feira – dia em que os sentimentos nacionalistas foram insuflados pelo plebiscito sobre a independência da Escócia.Detalhe: não só as bandeiras escocesas.Além da tradicional cruz de Santo André branca sob fundo azul, símbolo da Escócia, flamulavam pelas ruas os estandartes de diversas outras regiões que aspiram à independência ou reivindicam mais autonomia, como a Catalunha, o País de Gales, o norte da Itália, a Sardenha e o País Basco.Com seu plebiscito sobre a independência inspirando movimentos separatistas em outros países, a Escócia virou centro das atenções além das suas fronteiras.Mas muitos estrangeiros fizeram questão de testemunhar em primeira mão o singular processo britânico – que diferente de outros será reconhecido pelo Parlamento –, movimentando uma espécie de ‘turismo político’ na bela capital do país.Pule Mais lidas e continue lendoMais lidasFim do Mais lidas”Viemos especialmente para ver como funciona a democracia. Aqui é um país democrático, onde deixam o povo votar”, disse à BBC Brasil a catalã Anna Salvà Catarineu. “Na Espanha, nem sequer nos deixam votar.”Crédito, BBC BrasilLegenda da foto, “A diferença entre a Escócia e a Catalunha, e o Reino Unido e a Espanha, é que aqui pelo menos os escoceses podem votar”, diz o jovem Antoní Martinez (de camisa azul)Anna Salvà veio a Edimburgo junto com dezenas de outras pessoas em um grupo organizado na pequena Arenys de Munt.O vilarejo, nos arredores de Barcelona, se destacou em 2009 por aprovar um sim à independência catalã em sua própria – e bastante limitada – consulta à população de 8 mil habitantes.Entre todos os turistas do nacionalismo presentes em Edimburgo, os catalães se destacavam por serem mais numerosos. A região, uma das mais ricas da Espanha e que responde por 16% da população do país, pretende realizar um plebiscito sobre a sua própria independência em novembro.Porém, Madri já disse que não reconhecerá o resultado. Se a consulta for convocada oficialmente, a grande probabilidade é de que seja considerada ilegal pela Justiça espanhola.’Futuro nas mãos da Escócia'”A diferença entre a Escócia e a Catalunha, e o Reino Unido e a Espanha, é que aqui pelo menos os escoceses podem votar. Entendemos que há gente que quer sim e gente que prefere não. Mas o que não se pode negar é o direito das pessoas de se expressarem livremente”, argumentou à BBC Brasil o jovem catalão Antoní Martínez.Crédito, BBC BrasilLegenda da foto, Catalães também querem direito de votar pela independência da EspanhaEle caminhava com um amigo em direção ao Holyrood, a sede do Parlamento escocês.”Nós estamos a favor do sim na Escócia porque entendemos que seria um precedente muito importante na Europa: que por fim, em pleno século 21, as pessoas possam desenhar as fronteiras de forma pacífica, nas urnas, e não com guerras, como ocorreu antes.”Os eleitores escoceses já estão cientes de que a sua escolha no plebiscito tem repercussões em diversos cantos da Europa, mas ainda assim o afã dos estrangeiros em apoiar o separatismo escocês em raras vezes gera desconforto entre os que defendem a permanência no Reino Unido.Um deles interrompeu o discurso de um manifestante catalão que, do alto de um banco em frente ao Holyrood, fazia um elogio ao nacionalismo escocês.Vestido com uma camisa do Barcelona, enrolado na bandeira catalã e com uma boina vermelha que parecera saída de um quadro de Miró, o homem segurava uma faixa que dizia “Nós catalães também queremos votar… mas a Espanha não nos deixa”.No meio de sua fala, um homem na plateia o interrompeu: “Você vota aqui?” – disse, gerando reações favoráveis e contrárias ao catalão. “Há quanto tempo você está aqui?”, insistiu o escocês.”Em Edimburgo, apenas 24 horas”, respondeu o manifestante, descendo do banco. “Mas o futuro de toda a Europa está hoje nas mãos da Escócia.”Seguindo os passosMais que oxigenar a chama dos movimentos nacionalistas europeus, o plebiscito escocês tem o potencial de demarcar o caminho para outras regiões que desejam mais autonomia ou independência.Os principais partidos britânicos já se comprometeram a transferir para Holyrood mais poderes caso a Escócia permaneça no Reino Unido. Analistas acreditam que isto venha na forma de um mandato mais claro para legislar em áreas como regime tributário e gastos sociais.Um relatório da consultoria IHS observa que o Parlamento escocês já passará a ter mais autonomia no ano que vem para estabelecer seu próprio nível de imposto de renda, de terra e sobre a propriedade.Crédito, BBC BrasilLegenda da foto, Referendo da Escócia inspira outros movimentos nacionalistas, como o da Liga Norte, na ItáliaLondres deve limitar, porém, o uso de incentivos fiscais para atrair empresas sediadas em outras partes do Reino Unido.Qualquer que seja a fórmula preferida pelos escoceses para ditar seus próprios interesses, a experiência deverá servir de modelo para outros movimentos nacionalistas e regionalistas europeus.”Mesmo que o não vença, nós vamos ganhar mais autonomia para o Parlamento escocês”, disse à BBC Brasil um eleitor do não que se limitou a identificar-se como Cameron.”Creio que existe uma grande mudança na mentalidade dos regionalistas como resultado do plebiscito, e não é só na Escócia; também na Inglaterra. Há reivindicações por mais autonomia e poderes mais regionalizados por parte das cidades do norte da Inglaterra”, diz.”O movimento pela independência da Escócia inspirou muitas pessoas e nações a pensar em como querem ser governadas e como querem estruturar os seus poderes.”O italiano Edoardo Rixi, expoente do partido regionalista Liga Norte na Ligúria, veio a Edimburgo com outros seis colegas do movimento. Ele disse à BBC Brasil que a experiência escocesa pode “mudar a história da Europa”.”Hoje em dia os problemas econômicos e sociais estão crescendo porque os políticos europeus pensam nas finanças e não no povo e na sua liberdade”, afirmou.A Liga Norte defende o federalismo italiano e por vezes menciona a criação de uma nação Padana que inclua as províncias do Piemonte, Lombardia, Vêneto, Ligúria, Emília Romana e Toscana.”Nosso objetivo é a independência. Não nos sentimos italianos”, disse Carlo Piastra, que milita na Juventude do partido.”Viemos aqui porque a força do povo escocês nos inspirou. Queríamos ver, respirar o ar aqui, queríamos ver a mágica da independência dessa terra.””Nós queremos uma Europa das pessoas e não dos bancos.”
Plebiscito escocês vira trampolim para nacionalismos europeus
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