Ninguém sabe quem os cardeais católicos do mundo escolherão para suceder o papa Francisco como o novo líder da Igreja Católica. Mas, para quem acompanha atentamente, às vezes há indícios sobre quem pode emergir como o próximo pontífice.O processo de escolha de um novo papa é longo e sigiloso. A maioria dos 252 cardeais do mundo está vindo a Roma para participar. Os menores de 80 anos, 135 prelados, estão se preparando para participar de um conclave para eleger o próximo pontífice.Assim que começar, o que pela lei da Igreja não deve ocorrer antes de 6 de maio, os cardeais ficarão completamente isolados do mundo moderno até que um novo papa seja eleito.Até lá, eles podem participar de eventos públicos e dar entrevistas sobre o que procuram no próximo líder dos 1,4 bilhão de católicos do mundo.“Ler os sinais pré-conclave para identificar candidatos papais é complicado, porque os sinais geralmente são muito sutis”, disse John Thavis, correspondente do Vaticano que cobriu três papados.Francisco morreu na segunda-feira (21), aos 88 anos. Não há um favorito claro para sucedê-lo.Enquanto o papa se recuperava de uma pneumonia no fim de semana da Páscoa, ele pediu a cardeais com mais de 80 anos para presidir em seu lugar as várias celebrações do feriado no Vaticano, possivelmente porque ele não queria indicar nenhum sucessor favorito.O funeral do papa, neste sábado (26), será o primeiro grande momento para ficar atento aos sinais de quem pode ser o próximo.Dezenas de milhares de pessoas, incluindo dezenas de líderes mundiais como o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, são esperadas na Praça de São Pedro para a cerimônia. Milhões de pessoas estarão assistindo ao evento em todo o mundo.Os cardeais presentes ouvirão atentamente o sermão proferido pelo cardeal italiano Giovanni Battista Re, líder cerimonial do Colégio Cardinalício e autoridade aposentada do Vaticano.No funeral do Papa João Paulo II em 2005, o sermão foi proferido pelo cardeal alemão Joseph Ratzinger, que ofereceu o que muitos consideraram uma elocução emocionante sobre a vida e o legado do falecido papa.Onze dias depois, Ratzinger seria eleito Papa Bento XVI. • José Patrício/Estadão Conteúdo/AERe tem 91 anos, não pode participar do conclave e não é um candidato papal.Mas fontes internas esperam que ele ainda tente oferecer um guia para seus confrades seguirem na forma como ele escolhe descrever o papado de Francisco, ou em quaisquer palavras que ele use para descrever as necessidades da Igreja Católica hoje.Dicas para o conclave devem surgir lentamenteO funeral papal marca o primeiro de nove dias de luto para a Igreja. Outra missa de luto será celebrada na Praça de São Pedro no domingo (27).Ela será presidida pelo cardeal italiano Pietro Parolin, frequentemente citado como um dos principais candidatos ao papado.“O clichê é que aquele que entra no conclave como papa, sai como cardeal”, disse Christopher Bellitto, historiador da Universidade Kean, em Nova Jersey, especializado em Igreja. “Só os profetas sabem o que vai acontecer.”Outras dicas sobre possíveis sucessores de Francisco provavelmente surgirão mais lentamente.Em 2013, enquanto os cardeais se reuniam em Roma após a renúncia surpreendente de Bento XVI, alguns dos prelados dos EUA que se preparavam para participar do conclave começaram a dar entrevistas para a imprensa.Mais tarde, o grupo mais amplo de cardeais do mundo pediu que eles parassem de fazer as coletivas.Mesmo que não haja coletivas de imprensa desta vez, os cardeais que passam tempo em Roma costumam celebrar missas em igrejas espalhadas pela cidade.Os sermões que proferem nessas ocasiões podem dar indicações sobre o que pensam.“Todos os sinais virão em pedaços, ou frases usadas para descrever o que os cardeais estão procurando no próximo papa”, disse Thavis.“Palavras como ‘abertura’ e ‘reforma’ podem se adequar a certos cardeais, enquanto ‘habilidades administrativas’ e ‘teologia sólida’ podem descrever outros”, disse ele.A portas fechadasAs maiores dicas virão nas reuniões diárias que os cardeais terão na semana que antecede o conclave.Nessas reuniões, conhecidas como “congregações gerais”, os cardeais têm a oportunidade de falar livremente e até mesmo, talvez, de oferecer uma visão para um futuro papado sob sua própria liderança.Em 2013, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio ofereceu uma breve reflexão em um desses encontros. O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio sobe a Linha A do metrô antes da celebração da tradicional missa do Tedeum na Catedral Metropolitana de Buenos Aires • 25/05/2008 – Buenos Aires, Argentina – Foto de Emiliano Lasalvia/LatinContent via Getty ImagesEle disse que a Igreja, assolada por abusos sexuais e escândalos financeiros, havia se tornado “doente” e “autorreferencial demais”, segundo um texto publicado posteriormente. Ele afirmou que a Igreja precisava se esforçar mais para se abrir ao mundo moderno.Poucos dias depois, Bergoglio seria eleito papa Francisco.As deliberações finais sobre quem sucederá Francisco ocorrerão em conclave.Os cardeais que entrarem na Capela Sistina para votar serão isolados do mundo, proibidos de ler jornais ou falar com o mundo exterior.Ao iniciarem suas deliberações, o arcebispo Diego Ravelli, que lidera as celebrações litúrgicas do Vaticano, gritará, em latim: “Extra omnes!” (Todos para fora!)
Quem será o próximo papa? Cardeais podem dar pistas antes do conclave
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