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Tarifaço: dá para mandar os alimentos que iriam para os EUA para outros mercados?

por Redação
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Não, segundo especialistas ouvidos pelo g1. Cada setor tem desafios e complexidades próprias, e a mudança de destino não é simples. Nesse cenário, surgem as dúvidas: o que os setores estão fazendo para se prepararem? É possível redirecionar a produção para outros mercados? Como funciona o processo de exportação? Especialistas e economistas ouvidos pelo g1 apontam as seguintes respostas: O setor cafeeiro segue em compasso de espera, aguardando a inclusão do grão na lista de exceções ao tarifaço. A possibilidade de estocagem reduz a pressa: o café pode ser armazenado por meses, e a safra colhida no primeiro semestre de 2025 só deverá ser exportada em 2026. É possível redirecionar para outros mercados o produto, mas o processo é complexo, já que cada destino tem exigências próprias.Exportadores de tilápia têm acelerado as exportações, seja por navio ou avião, para concluir o envio antes de 6 de agosto. A produção que não for enviada até essa data deve ser redirecionada ao mercado interno, porque não existem destinos alternativos com capacidade para absorver o volume exportado.A manga, fruta mais exportada do Brasil, é negociada ainda no pé. A variedade Tommy Atkins, preferida pelos norte-americanos, começará a ser colhida em agosto. O setor exportador alerta para o risco de um possível colapso na comercialização. Tarifaço pode encarecer ou baratear o preço dos alimentos no Brasil? Veja mais detalhes sobre os desafios da exportação desses produtos a seguir. O setor de carne diz que paralisou a produção específica para os EUA. O país não é o seu maior cliente, posto ocupado pela China. Mesmo assim, nenhum outro mercado conseguiria substituir os EUA de imediato, por exemplo, em rentabilidade. As informações são da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e foram divulgadas à GloboNews. O g1 tentou contato com representantes do setor para saber mais sobre as exportações, mas não recebeu resposta. ☕​Café ➡️Como o setor está se preparando para o tarifaço? O segmento cafeeiro está em compasso de espera e aguarda a inclusão do grão na lista de exceções ao tarifaço. A possibilidade de estocagem ajuda a reduzir a pressa: o café pode ser armazenado por meses, e a safra colhida no primeiro semestre de 2025 só será exportada em 2026. Segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o produto mantém suas características por pelo menos oito meses após a colheita. Mesmo que a tarifa seja mantida, ainda não há clareza sobre a duração da medida, o que aumenta a incerteza no mercado. ➡️​​Como funciona a exportação do café brasileiro? A colheita acontece uma vez por ano, no primeiro semestre. Após a retirada dos grãos, é necessário um período de preparo que pode levar semanas. No caso do café arábica, o mais vendido ao mercado americano, esse preparo pode levar até dois meses, segundo o analista Fernando Maximiliano, da consultoria StoneX. Depois de colhido, o grão passa por etapas como a remoção da casca e, em seguida, é vendido a empresas exportadoras. O próximo passo é classificar o café, por densidade e separação de defeitos, para atender ao perfil de qualidade exigido por cada cliente ou país. Só então o café é ensacado e enviado ao porto em contêineres. ➡️​Dá para redirecionar o que iria para os EUA para outros mercados? É possível, mas não é simples. Cada país tem exigências próprias de qualidade, tipo e normas fitossanitárias. Por exemplo: grande parte do café arábica brasileiro é usada em blends, misturado a grãos mais suaves de países como Colômbia e outros da América Latina. O café nacional, conhecido pelo corpo e doçura, equilibra o sabor final do produto consumido nos EUA. Redirecionar os embarques exige, ainda, ajustes comerciais e disponibilidade de oferta. Mesmo assim, mercados como China, Índia, Indonésia e Austrália — que já importam o grão brasileiro — são apontados pelo Cecafé como alternativas a serem exploradas. 🐟Tilápia ➡️​Como o setor está se preparando para o tarifaço? Os EUA são destino de 70% dos pescados exportados do Brasil. Para a tilápia, principal espécie enviada ao exterior, essa porcentagem é ainda maior, mais de 90% do produto vai para os norte-americanos. De todo esse volume, 92% vai em forma de filé fresco, de avião, em um percurso que dura cerca de 10 horas. O restante é levado congelado, em navios, em viagens que duram cerca de 20 dias. Inicialmente, quando se esperava que a tarifa de 50% começasse a valer em 1º de agosto, os envios marítimos de tilápia brasileira com previsão de chegada após essa data tinham sido suspensos. Na quarta-feira (30), após o tarifaço ser “adiado” para o dia 6 de agosto, e a determinação de que tudo que embarcasse até essa data não seria atingido pela tarifa, o cenário mudou. “Tá todo mundo correndo para tentar viabilizar contêineres, navios, até o dia 6”, afirma Eduardo Lobo, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca). Já o envio aéreo de filés frescos, que leva maior volume de tilápia, nunca foi suspenso e seguirá acontecendo até o dia 6 de agosto, de acordo com Francisco Medeiros, presidente da Associação Brasileira de Piscicultura, PeixeBR. A indústria também tem estocado tilápias, sejam vivas, em viveiros, ou congeladas, em frigoríficos, onde podem durar até dois anos, segundo Lobo. ➡️​Dá para redirecionar o que iria para os EUA para outros mercados? A tilápia que estava programada para ser enviada aos EUA depois do dia 6 de agosto deve ser redirecionada ao mercado interno, segundo Francisco Medeiros, presidente da Associação Brasileira de Piscicultura, a PeixeBR. Isso porque os estoques do produto estão no Brasil e não há mercados secundários, fora a União Europeia e produtores concorrentes, como a China, grandes o suficiente para absorver o volume que seria enviado aos EUA. No caso da União Europeia, o envio de tilápia brasileira está suspenso desde 2017 por não corresponder às exigências desse mercado. Apesar disso, o presidente da Abipesca garante que a indústria brasileira está pronta para envio e o setor espera que isso aconteça o quanto antes. Mas, a médio e longo prazo, a incorporação desse volume de tilápia no mercado interno deve prejudicar a indústria, destaca Lobo. “O mercado brasileiro já é abastecido por uma quantidade grande do produto e o redirecionamento ao mercado interno ‘faria o preço ficar inexequível, quebrando a cadeia produtiva”, diz. 🥭​Manga As frutas estão entre os alimentos afetados pelo tarifaço, especialmente a manga, a uva e as processadas, como o açaí, informou a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). A manga é a fruta mais exportada do Brasil e 14% desse volume vai para os EUA. Manter a manga no Brasil geraria um colapso no mercado, diz o presidente da Abrafrutas, Guilherme Coelho. A Tommy Atkins, variedade de manga que vai aos Estados Unidos, entretanto, deve começar a ser colhida apenas em agosto. Segundo a associação, as negociações acontecem com ela ainda no pé. Em relação a todas as frutas brasileiras, os norte-americanos compram 7% do que é exportado pelo Brasil, segundo a Abrafrutas. ➡️Quando as frutas são exportadas? Apesar de a manga preferida dos americanos ser colhida a partir de agosto, outras variedades podem ser colhidas durante todo o ano. O açaí, por sua vez, é colhido anualmente e, no Norte e no Nordeste, esse processo já começou. As frutas, de forma geral, não precisam passar por nenhum tipo de processamento antes da exportação. Mas a manga passa pelo tratamento hidrotérmico. Nele, a fruta é imersa em água quente de até 46,1⁰C, durante 75 minutos (em frutas com peso menor que 425g) ou 90 minutos (nas com peso maior que 425g), segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). De acordo com a organização, foi esse tratamento que permitiu a abertura do mercado da manga brasileira para diferentes países. ➡️​Dá para redirecionar o que iria para os EUA para outros mercados? Na parte técnica, nada impede que um navio seja redirecionado para outro destino, contanto que ainda não tenha saído do Brasil, aponta a Abrafrutas. Por outro lado, é difícil encontras novos mercados que tenham a cultura de comer manga. Caso os alimentos não encontrem compradores, o tempo de vida de frutas, como manga e abacaxi, é curto. Segundo a Abrafrutas, o tempo elas podem ficar armazenadas depende de questões como a pós-colheita, o ponto de maturação em que foi colhida e a variedade. O açaí, entretanto, pode ser armazenado por 12 meses até o vencimento do prazo de validade. Raio X da exportação — Foto: arte g1

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