Quando alguém morre, pode deixar para trás recursos que muitas vezes passam despercebidos pelos familiares — como seguros de vida, saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), cotas do PIS/Pasep (para quem trabalhou formalmente de 1971 a 1988) e até indenizações de auxílio-funeral. Esses valores, chamados de ativos invisíveis, existem, mas deixam de ser resgatados por falta de informação. Um levantamento da plataforma Planeje Bem, especializada em planejamento sucessório, mostra que, nos seis primeiros meses de 2025, herdeiros deixaram de recuperar, em média, até R$ 50 mil em valores deixados por parentes. O estudo, feito com mais de cem atendimentos, apontou que cerca de 70% dos casos envolvem homens — em geral filhos, netos ou sobrinhos que não participavam da rotina financeira do falecido. No momento da perda, a prioridade costuma ser o funeral. Depois, muitos voltam à rotina e não vão atrás dos direitos — afirma Carolina Aparicio, diretora executiva da Planeje Bem. A falta de informação e a desorganização de documentos dificultam o processo. Contratos, apólices e comprovantes são essenciais para acessar previdência privada, seguro de vida empresarial, saldo do FGTS e cotas do PIS/Pasep. Para evitar a perda, a advogada Laura Brito, especialista em Direito de Família e Sucessões, recomenda que os documentos fiquem organizados em uma pasta única, junto de certidões, declaração de Imposto de Renda, contratos e informações sobre investimentos e contas bancárias. A advogada Maria Pia Bastos-Tigre, de 46 anos, passou por essa experiência em 2019, quando o avô faleceu. Só depois descobriu que ele tinha seguro de vida, conta bancária e ações — nenhum desses bens constava na declaração de IR. Tivemos que revirar papéis e acessar diferentes instituições para encontrar cada valor — lembra. Após a experiência, Maria mudou a abordagem com a própria família e passou a conversar mais sobre planejamento sucessório. Laura Brito reforça que evitar o assunto por medo ou superstição é prejudicial: É um ato de cuidado com quem fica. Além dos documentos, é importante registrar onde estão aplicados os recursos. Herança digital Além de bens físicos, heranças podem incluir milhas, arquivos em nuvem, redes sociais, senhas e criptoativos — a chamada herança digital. O Projeto de Lei 4/2025, em tramitação no Senado, pretende atualizar o Código Civil para definir o que pode ser acessado e por quem. Especialistas alertam que, mesmo com testamento, termos de uso de plataformas podem impedir o acesso. — Há questões patrimoniais e de privacidade — explica Laura. Onde buscar valores esquecidos RHs e sindicatos: podem informar sobre seguros e benefícios trabalhistas. Contas bancárias: o site do Banco Central (valoresareceber.bcb.gov.br) indica saldos esquecidos.Seguros de vida: consulta disponível no site da CNseg, com certidão de óbito. Pensão: solicitação no site ou app Meu INSS, com documentos de vínculo e óbito. DPVAT: para acidentes até 31/12/2023, pedidos devem ser feitos à Caixa Econômica Federal. Cartões: muitos incluem seguros e auxílio-funeral; consulte o banco. Leia Também: Um mês após maior ataque hacker da história do país, BMP recuperou metade dos R$ 541 mi roubados